quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

1978-2013: 35 ANOS DA HISTÓRIA MODERNA DE SUPERMAN NOS CINEMAS
PARTE 3: SUPERMAN, O RETORNO, DE BRYAN SINGER, (2006): Um espetacular crepúsculo que tomamos como aurora.


Quando sentei-me no cinema para assistir ao novo filme do Homem de Aço, em 2006, um desconhecido ao meu lado disse para mim: "esperei muitos anos por esse filme!". Fiquei entusiasmado pois também esperava a muito tempo por um Superman 5. Desde 1987, com o medonho Superman 4, que o Último Filho de Krypton estava ausente das telonas. Houve tentativas de recolocá-lo em exibição com o esquecido e não filmado Superman Flyby, de Tim Burton com Nicholas Cage, mas que graças a Deus não foi rodado. Apenas em 2006 teríamos um novo filme dele.
O diretor escolhido foi Bryan Singer. Este vinha de filmes bastante elogiados de super-heróis como o bom X-Men e o ótimo X-Men 2. Singer é um diretor interessante. Ele consegue enxergar nos super-heróis certos direcionamentos insuspeitos.
Para este Superman, o diretor optou por uma estética exemplar. Visualmente o filme combina art déco com telas de lcd e celulares, a faxada do Planeta é um grande, literalmente falando, exemplo da grandiosa inspiração de Singer, que preferiu manter os detalhes arquitetônicos dos anos 30, época da criação do mito, aliado aos novos produtos da moderna tecnologia. Isso foi bom? A melhor resposta é: isso foi bem feito. Combinar uma Metropolis antiga com uma nova é respeitar o passado sem esquecer o presente.
E seria bom que essa estética que alia dois mundo diferentes estivesse presente também no roteiro do filme. Mas não está.
Singer praticamente copia o Superman de Donner, muitas vezes cena após cena é reproduzida, com direitos até mesmo aos diálogos entre Jor-El e seu filho, o Jor-El de Brando.
Isso pode ser visto como falta de ousadia e é mesmo.
Superman, o retorno parece permanecer bastante confortável como uma esplendorosa homenagem ao filme de 1978. Nesse sentido o filme funciona. Está aqui a força de Singer. Seu filme é um verdadeiro fan service, tanto para os fãs da obra de Donner quanto para os fãs de Clark Kent nos quadrinhos.
Como dito acima, há uma intensa homenagem ao filme de 1978 nessa película. Mas há também uma homenagem aos quadrinhos.
Elas surgem em referências imagéticas ao longo da produção.
Há as capas de Action Comics #1, quando Superman salva um carro: ele ergue o veículo e o coloca novamente no chão na mesma posição icônica que Shuster desenhou na capa de 1938. Quando salva Kitty, a comparsa de Lex Luthor, um garoto consegue tirar uma foto, no Planeta Diário Perry White mostra o resultado: é a capa da edição de casamento de Clark e Lois, de 1996.
Por falar em casamento, este filme é sobre um super-herói, mas o diretor conta duas histórias aqui. A outra é uma história de amor.
E é essa história que Singer escolhe contar com mais intensidade. Parece que estamos vendo tudo pelos olhos apaixonados de Lois Lane. Até as cenas de voo são super... suaves. Superman não voa, paira com uma delicadeza assombrosa, como uma imagem sublime de um ser de luz, poderoso, mas que nem liga muito para esse detalhe. E por isso o filme não convence de todo.
Estamos falando do maior e mais poderoso super-herói de todos os tempos. E nesse filme, acreditem, ele beija a mocinha, tem filho, salva mulheres, combate assaltos, se não me engano salva até um gatinho de uma árvore, mas não disfere um único murro sequer, em ninguém. Parece inacreditável um filme assim sobre Kal-El. Mas existe.
É porque Singer prefere olhar para trás. Seu Superman é o personagem que ainda não saiu da era de Prata e que ainda guarda elementos da era de Ouro. Esse filme seria simplesmente perfeito na década de 80! Mas hoje, um personagem assim só agrada como saudosismo.
Quando Metropolis é destruída devido à criação do novo continente de Lex Luthor, feito com elementos oriundos da Fortaleza da Solidão, essa destruição é bastante pontual e Superman consegue salvar todos. Mas hoje ninguém consegue acreditar muito nisso. Novamente Singer parece que deseja se comunicar com aqueles que presenciaram a estreia do filme de 1978. Talvez pela comoção do 11 de setembro, ainda estava, mesmo cinco anos depois, bastante viva, ele tenha escolhido ser ameno na destruição. Mas o preço pago foi alto. Nós sentimos nessas cenas a brutalidade e o desejo de explodir contidos em prol da escolha estética do diretor. Não, ele não está errado. Só está trocando a época.
E nesse aspecto, esse filme parece um filme de super-herói de época.
Sobre o elenco.
Brandon Routh não faz mal como Clark Kent/Superman. Ele consegue caminhar bem entre os dois polos do personagem. Seu problema não é a atuação, é a aparência. Ele parece mais com Superboy do que com Superman. Tem rosto de garoto.
A Lois Lane de Kate Bosworth consegue extrair cenas críveis entre ela e Clark e no geral nunca está ruim. Eu gosto dos dois e, em um roteiro sem muita ousadia e bastante contido, diria mesmo recatado, esse casal faz o melhor que poderia ser feito.
Kevin Spacey vive Lex Luthor. Ele é mais cruel do que o de Hackman, porém menos cômico. Suas expressões corporais, diferentes dos contidos Clark e Lois, são mais dinâmicas e algumas vezes fazem lembrar o Lex de Donner/Hackman.
O filme começa com a música clássica de Williams. Na Terra, há cinco anos que o Superman desapareceu. Quando cientistas descobriram restos de Krypton, Superman resolveu partir para o espaço em busca de suas origens. Quando retorna, Lois está casada, com filho e Luthor saiu da cadeia e casou-se com uma bilionária, que para sorte do criminoso, morre e deixa-o como único herdeiro. Com a herança, Luthor vai ao Polo Norte, para a Fortaleza da Solidão. Lá rouba os cristais formadores e planeja construir um novo continente na Terra, destruindo boa parte do continente americano no processo.
A identificação religiosa em torno da figura do Homem de Aço está presente aqui também. Quando de sua ausência, Lois escreveu um artigo, "Por que o mundo não precisa de Superman", com o qual ganhou o Pulitzer, mas Superman lhe afirma que todos os dias escuta pessoas pedindo por salvação.
A cidade sofre um gigantesco blecaute, e ao investigar os motivos, Lois acaba presa por Lex Luthor juntamente com seu filho Jason. Em dado momento, Jason arremessa um piano sobre um dos capangas de Luthor, matando-o instantaneamente. O pai dessa criança não é o humano marido de Lois, Richard, como todos pensam...
Richard, o marido de Lois, com ajuda do Superman, conseguem salvar Lois e Jason - estavam presos em um iate em alto mar preste a ser destruído graças ao continente kryptoniano de Lex Luthor que emerge das profundezas do oceano.
Gradualmente a costa de Metropolis é tomada por violentos
tremores. Após conter a destruição, Superman ruma para o novo continente. Lá é recepcionado por Luthor, que o humilha, enfiando-lhe uma adaga de kryptonita e jogando o corpo em alto mar.
Agora é a vez de Lois e Jason, juntamente com Richard, retribuírem o salvamento. São os três que conseguem salvar Kal-El.
Este, novamente irradiado pelo sol e sem a kryptonita no corpo, Lois a retirou, consegue erguer a gigantesca massa de terra, mandando-a para os confins do espaço. Porém o esforço é demais até para ele, que cai no Central Park de Metropolis e é levado ao hospital.
Todos acreditam que está morto. Mas inexplicavelmente (ou pelo poder do amor de Lois e de Jason que o visitam), consegue se erguer novamente. Ao visitar a casa de Lois em segredo, ruma para o quarto de Jason, e repete as mesmas palavras que Jor-El havia lhe pronunciado sobre "o filho torna-se o pai, e o pai torna-se o filho". Quando sai, avista Lois, que olha para o mar bastante entristecida. Quando escuta Jason gritar "Tchau, Superman!", toma um susto e percebe a figura super-heroica que paira à sua frente.Ela pergunta se vai puder vê-lo mais vezes, e ele responde que sempre estará por aí.
O filme termina com cenas de voo de Superman ao som da música "Tema de Superman", de Williams.
Superman, o Retorno arrecadou bem ao redor do mundo. É a sexta maior bilheteria dos EUA em 2006 e a nona no mundo no mesmo período. A crítica em geral foi bastante positiva. Ora, para termos de comparação, fez mais do que Batman Begins, o primeiro Batman de Nolan, de 2005.


E é interessante as datas aproximadas dessas duas produções. O filme de Nolan inaugura, sem dúvida, um novo patamar e uma nova época para os filmes baseados em super-heróis, assim como inaugura uma maneira diferente, "realista", como muitos gostam de afirmar, de enxergar esses personagens. Nolan é o início de uma nova era.
O filme de Singer é a despedida de uma outra era. Uma era mais amena, despreocupada em relação a certos problemas existenciais. Returns não é um início. É o fim. O fim da era super-heroica conforme preconizada por Donner em seus filmes.
É uma homenagem que se desenha na despedida, olhando para trás e sorrindo. É um bom filme sim, mas não é um começo, é um fim. Um espetacular crepúsculo que tomamos como aurora.
Superman só iria ter um novo filme em 2013. E quando eu digo "novo", quero dizer em qualquer aspecto dessa palavra. E que filme!

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